“Indubitavelmente, não basta apreciar os sentimentos sublimes que o Cristianismo inspira. É indispensável revestirmo-nos deles. Não bastam raciocínios, mas profundidade”. (*)
A parábola do Semeador convida o homem a
ser incondicionalmente bom e semear Verdade e Bem sem nenhuma segunda intenção
de obter resultados objetivos. Basta-lhe a consciência do dever cumprido. Por
esta razão, a maioria dos cristãos tem grandes dificuldades em colocar em
prática os benditos ensinamentos de Jesus, porque se acostumaram a observar
apenas as palavras, e algumas vezes literalmente, o que lhes dificulta uma
compreensão mais profunda do verdadeiro significado que está embutido em cada
uma delas.
Essa não apreensão estende-se há séculos
por interesses outros que não o de levar, a quem têm essa tarefa, as verdades
como Jesus as trouxe. Deturpações de todos os tipos acabaram por calcar em
almas puras as interpretações esdrúxulas que lemos e ouvimos até hoje. Revestida
de tantos mistérios, de dogmas, de retórica que, embora a Palavra permaneça,
fica enclausurada na forma, sem que se possa ver o fundo, a essência. Não
dissipam as trevas e nem abrandam os corações; não anunciam a Palavra, mas
fazem dela um instrumento para receberem ouro ou glória. Somente com uma
análise mais rigorosa e verdadeiramente interessada essas distorções podem ser
esclarecidas e o verdadeiro ensinamento do Mestre vir à tona.
Nosso olhar, hoje, sobre a Parábola do
Semeador passa pela evolução do homem como ser ainda adormecido sobre as coisas
espirituais até seu despertar como Ser Total, como consciência cósmica. Da
beira do caminho à terra fértil, esses elementos ilustrativos representam a
forma como a palavra divina chega ao entendimento do homem. Fases do desenvolvimento
espiritual pelo qual passa, caminhos a serem percorridos ou processos a serem
sofridos até atingir a perfeição possível em cada uma dessas etapas.
É importante deixar claro que Jesus sabia
dos resultados frustrantes que teria ao tentar semear em terrenos pouco
apropriados para o plantio e sem nenhuma preparação para tal tarefa. É sabido,
também, que nenhum lavrador deita sua semente em solo não preparado. É perda de
tempo, de dinheiro e de sementes. Então, fica a pergunta: por que Jesus insistiu
em fazer isso? O que pretendeu Ele? Trazendo sementes benditas a serem
semeadas, sabia que era fundamental plantar a Verdade e o Bem,
independentemente dos resultados.
Afirma Huberto Rohden, no livro Sabedoria das Parábolas, Primeira Parte, in Parábola do Semeador, que não nos
cabe condenar a terra onde foram lançadas porque o ensino não trata do terreno
material, e sim do terreno da alma humana, o campo do Espírito, esse, sim,
imprevisível, onde o egoísmo ainda prevalece. Sob esse aspecto, a liberdade da
criatura coloca limites à jurisdição divina. As leis divinas, não podemos
ignorar, respeitam a liberdade do homem, sejam eles bons ou maus, mas o destino
final poderá ser diametralmente oposto a essa liberdade de escolha. Um exemplo
claro dessa destinação está na parábola do joio e do trigo, na qual o joio
cresce livre para no final ser extinto. A semeadura é livre, mas a colheita é
compulsória. É a lei e assim deve ser cumprida.
No livro Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbar Schutel refere-se à parábola
do Semeador como a parábola das parábolas, porque sintetiza os caracteres
dominantes em todas as almas e, ao mesmo tempo, ensina a distingui-las pela boa
ou má vontade de quem as recebe. Dessa forma, temos as almas “beiras de
caminho”, ou seja, onde passam todas as ideias grandiosas, como pessoas nas
estradas, sem gravarem nenhuma delas. São as pedras impenetráveis às novas
ideias, são os espinhos que sufocam as verdades, como as plantas que não
permitem o crescimento do que quer que seja ao seu redor. São homens e terras
improdutivas. Mas, também temos ao lado dessas almas, aquelas de boa vontade
que recebem as palavras de Deus e as colocam em prática. Terra fértil que
acolhe a semente bendita da qual resulta boa produção.
No momento evolutivo que vivemos, temos
essas características em nós mesmos. Qualidades que já podem produzir bons
frutos, mas também dificuldades que não permitem a germinação da boa semente.
Como todo esse processo é longo, exige de cada um de nós o exercício da
paciência, da perseverança e da coragem para lutar contra as próprias
dificuldades, em acertos e erros contínuos, até que aprendamos a escolher
somente o bem.
Entendemos que a semente é a palavra de
Deus e seu aproveitamento não é uniforme entre os homens porque uns são mais
atentos às coisas do Céu e outros mais apegados às coisas da Terra, ao
transitório, ao fugaz. Portanto, a terra que recebe a semente representa o lado
intelectual e moral de cada um: seja beira de caminho, pedregal, espinhal ou
boa terra. Por exemplo, o amor que se transforma em outro sentimento ou perde
seu encanto e poesia, ou simplesmente desaparece, é por negligência exclusiva
do seu cultivador e não de Deus. Era pouco e, após a transformação, ficou sem
nada. Se fosse verdadeiro, teria sido multiplicado.
Assim, é de fundamental importância aprendermos a semear na própria gleba e depois ajudar o próximo. A necessidade de sair de si mesmo e ir ao encontro dos interesses gerais determina o quanto já apreendemos das lições transmitidas, mas para não falirmos mais uma vez, exige-se firmeza na nossa fé.
Leda Maria Flaborea
Escritora, palestrante e divulgadora espírita
Bibliografia
(*) XAVIER, Francisco Candido. Vinha de Luz – 14ª edição – FEB – Brasília/DF – lição 89 – 1996.
MATEUS,
13:3 e seguintes.
MATEUS,
25: 14-30.
MARCOS,
4: 23-24.
KARDEC,
Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo
– Cap. VIII; Cap. XVII, itens 5 e 6; Cap. 18, itens 13 a 15.
Parabéns, excelente explanação para nosso pequeno exercício de Fé na constante busca de nosso aperfeiçoamento!
ResponderExcluirObrigado amigo Aloizio,
ExcluirVou transmitir a ela o seu comentário.
Abraço grande
Parabéns Leda, entendi a parábola do Semeador sobre outro prisma exposto por você, e no final nos convoca primeiro a nos amarmos para posteriormente podermos ajudar ao próximo, foi assim que entendi.
ResponderExcluirPena que você não se identificou.
ExcluirVou repassar seus comentários para a autora Leda M. Flaborea.
Abraço grande
Muito lindo!!! Deus é bom e justo, joga a semente no nosso solo...em todos os solos, pois Ele é o Pai de todos,mas cabe somente a nós mesmos trabalharmoso o nosso íntimo que é o solo de cada um e fertiliza-lo ou não.
ResponderExcluirOlá Mônica,
ExcluirMuito obrigado por seu comentário.
Vou repassar para a autora Leda M. Flaborea.
Abraço grande