Artigo publicado na revista eletrônica "O Consolador" -Ano 9 - N° 422 - 12 de Julho de 2015 - Crônicas e Artigos
Paulo Oliveira - psdo@outlook.com |
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“Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto
preciso que me hospedes hoje em tua casa.” (Lucas 19:5)
Zaqueu é uma daquelas figuras que, embora aparecendo
em uma única citação no Novo Testamento, marca presença em nossa mente, instiga-nos
a uma reflexão mais profunda quanto à razão, e ao simbolismo de sua inclusão
nos textos do Evangelho.
Ao buscarmos maiores referências sobre sua
pessoa temos, o relato feito no Evangelho de Lucas (19-1:10), no qual Zaqueu, responsável
pela coleta de impostos na cidade de Jericó, era o chefe dos publicanos
(cobradores de impostos) e muito rico. Era também rejeitado pelas pessoas “de
bem”, por causa de sua profissão e modo de vida.
Sendo Jericó uma cidade importante na qual era
produzido e exportado o bálsamo,
substância extraída de árvores da região, muito cobiçado por ter múltiplas
utilidades, servindo desde um excelente unguento para curar feridas até para perfumar
pessoas e locais. Pequenas amostras dessa substância eram consideradas como verdadeiros
tesouros, gerando muitos impostos.[1] Percebe-se,
portanto, a causa da fortuna de Zaqueu, sendo que alguns afirmavam ter ele desviado
dinheiro público para aplicação em sua riqueza pessoal.
Outra informação histórica sobre Zaqueu é a
deixada por Clemente de Alexandria[2], em seu livro Stromata, onde afirma ter sido Zaqueu apelidado de "Matias", pelos apóstolos, e tomado o lugar de Judas Iscariotes após a ascensão de Jesus.
Pois bem, esse era o homem que buscava Jesus
ansiosamente, naquela tarde que ficaria marcada para sempre em sua memória.
Como nos relata o evangelista Lucas, Zaqueu que
era um homem de baixa estatura física, não conseguiria ver Jesus em decorrência
da grande quantidade de pessoas que seguia o Mestre. Assim, para que pudesse
ser visto, ele subiu em um Sicômoro[3] e
ficou esperando pela passagem de Jesus.
Ao aproximar-se da árvore em que estava o velho
publicano, Jesus olhou-lhe diretamente nos olhos e disse: “Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje
em tua casa.” Atônito e jubiloso, Zaqueu apressou-se, desceu da árvore em que
se alojara e conduziu Jesus à sua casa, onde o recebeu com alegria.
Todos sabemos, pelo relato do evangelista, que
tocado pela consciência de si mesmo e inspirado pela presença do Enviado de
Deus, Zaqueu arrependeu-se e transformou-se por completo, dizendo que daria
metade de seus bens aos pobres e repararia todas as suas ações indébitas que
praticara, ao que Jesus, com muita alegria e júbilo, disse:
Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também
este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se
havia perdido.”[4]
Imaginemos que havia ali centenas de homens e
mulheres, que lutavam uns contra os outros por um lugar especial perto de
Jesus. Cada um sentindo-se com mais direito de ficar perto d´Ele e de obter-Lhe
as bênçãos desejadas. No entanto, de repente, o Mestre olha para quem não
esperava nada, para quem se sentia indigno, insignificante, perdido entre os
galhos de uma figueira e o chama pelo nome: "Zaqueu!".
Esta é a maneira
pela qual Jesus age. Para Ele não há multidões, apenas pessoas, independentemente
de cor, classe social, designação religiosa etc. Ele chora com sua dor e se
alegra com sua alegria, da mesma maneira como faz com todos os filhos de Deus
que habitam este planeta, física ou espiritualmente.
Ele sabe seu nome,
onde você mora, conhece suas ansiedades, sabe que você pode estar tentando se
aproximar d´Ele, no entanto, considera-se pouco merecedor para receber Seu
olhar e Seu carinho, de irmão mais velho. Saiba, porém, que Ele espera, a
exemplo de Zaqueu, que sejamos decididos e determinados, pois mesmo diante de uma
“multidão de dificuldades” e possuindo, ainda, “baixa estatura moral”, que
caracteriza a grande maioria dos Espíritos ligados a este planeta, Ele nos
chama pelo nosso nome, e nos faz o convite permanente: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei.”[5]
Ao escutar as
palavras de Jesus, dizendo que queria ser hospedado em sua casa, Zaqueu não
titubeou. Desceu rapidamente da árvore e conduziu Jesus para dentro de sua
habitação. Simbolicamente, podemos utilizar esta parte da história de Zaqueu
como uma metáfora para nossa reflexão.
Jesus viu a fé no coração de Zaqueu. Muitos não gostaram
do que viram, pois, para os que o conheciam, era um ladrão. Mas, para o Mestre,
que conhece a todos nós por dentro, ele era apenas um homem arrependido,
decidido a mudar. E, por essa razão, conseguiu o tão desejado encontro.
Vamos imaginar que
Jesus aparecesse hoje, exatamente agora, e nos dissesse: “Quero me hospedar em
sua casa.”, o que faríamos?
Certamente, diante
de fato tão impactante, talvez, ficássemos sem ação. A questão, no entanto, é
que Jesus nos pede isso a cada minuto. Ele está pedindo para que o hospedemos
em nossos corações, transformando-nos, cada um de nós, em sua “hospedaria”. O
Mestre quer habitar em cada um de nós, através de seus ensinamentos que Ele nos
solicita a prática diária.
Estamos realmente
querendo hospedar Jesus? Queremos ser os novos "Zaqueus" da atualidade? Será que
realmente estamos preparados para abrir mão da “metade” de nossas preocupações
com a posse material, para dar espaço para a vivência com Jesus?
É no buscar a
própria transformação, pela vivência diária do Evangelho que nos aproximamos do
Mestre, que, certamente, nos dirá: “Desce da árvore das ilusões, e busca o
Reino de Deus que está em teu coração, e lá Eu habitarei”.
Para encerrar estas
reflexões, gostaríamos de lembrar um dos contos trazidos do mundo espiritual,
por Irmão X (Humberto de Campos), através da mediunidade bendita de Chico
Xavier, em que relata a situação de um homem que buscava a condição de
discípulo, e que em diversos encontros com Jesus, sempre recebia uma frase de
estímulo e elevação, provenientes do coração amoroso do Mestre, que, em
seguida, partia deixando-o com os próprios pensamentos e deliberações. Porém, ao final desse maravilhoso conto,
quando Jesus retorna encontrando o discípulo totalmente renovado, demonstrando
alegria, paz, paciência, amor, perdão, e tantos outros sentimentos puros
adornados pela mais simples e genuína humildade, diz-nos Humberto de Campos,
que “o Senhor, encontrando-o em semelhante estado, estreitou-o nos braço, de
coração a coração, proclamando:
- Bem-aventurado o servo fiel que busca
a divina vontade de nosso Pai! E, desde então, passou a habitar com o discípulo
para sempre.”[6]
[1]Maria pegou uma
libra de bálsamo de nardo puro, um óleo perfumado muito caro, ungiu os pés de
Jesus e os enxugou com seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância
daquele bálsamo. Mas um de seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de
Simão, que mais tarde iria traí-lo, objetou: “Por que este bálsamo
perfumado não foi vendido por trezentos denários e dado aos pobres?”(João 12, 3-5)
[2] Clemente de
Alexandria ou Tito Flávio Clemente (Atenas (?), 150 - Palestina, 215 d.C) foi
um escritor, teólogo, apologista e mitógrafo cristão.
[3] Figueira Brava
[4] Lucas 19:9-10
[5] Mateus 11:28
[6] X, Irmão – Luz Acima – cap. 3 – Pequena história do
discípulo[ psicografia de Francisco Cândido Xavier ]– Ed. FEB – 11ª. edição.
Obrigada. Estas postagens são luz para nossos dias e alimento para as nossas mentes. Jesus vos ilumine sempre e cada vez mais.
ResponderExcluirOlá minha amiga,
ExcluirFico grato por suas palavras amorosas.
Um forte abraço
Maravilhoso, a conversão implica em buscar Jesus no coração
ResponderExcluirOlá Vitória,
ExcluirMuito obrigado por seu comentário.
A conversão real exige uma mudança interior e você diz isso muito bem: Buscar Jesus no coração.
Abraço
Que texto fabuloso! Que possamos descer das nossas árvores de defeitos! Parabéns!!!
ResponderExcluirPrezado amigo Aloizio,
ExcluirMuito obrigado pelo seu carinho e atenção para com este artigo.
Fico eternamente grato por tudo.
Abraço grande
Essa lição nos mostra que sempre é tempo de nos renovarmos, reconhecendo os erros passados e não os repetindo. Jesus sempre estará lá estendendo sua mão, basta estarmos disposto a Segui-Lo||
ResponderExcluirOlá meu amigo ou minha amiga (pena que você não se identificou).
ResponderExcluirSim, suas afirmações fazem total sentido. Jesus sempre está nos amparando em nosso processo educacional, inspirando e incentivando nossa melhoria interior.
Gratidão...
Abraço grande
Abrir nosso coração par receber Jesus, sempre!!! Estar atento ao seu chamado diário, renovação, re-começo todos os dias para uma vida de amor como o Cristo nos ensina.
ResponderExcluirOlá Walkiria,
ExcluirObrigado por fazer o seu comentário sobre o nosso artigo, cujo grande objetivo é exatamente o que você coloca: Estar atento ao seu chamado, que pode ocorrer a qualquer momento e de formas inusitadas, mesmo estando nós em cima da árvores de nossas ilusões.
Abraço grande